sábado, 30 de abril de 2016

32 dias de viagem – Biblioteca Pública de Salt Lake City


30 de abril de 2016. Um mês e dois dias longe de casa, longe de meus amores. Sinto muita falta de minha família, e em muitos momentos queria que eles estivessem aqui para aprendermos a ver juntos. Viver aqui junto de Silvye, David, Daniel e Charlie tem sido uma grande experiência. A maneira de como eles levam a vida é muito diferente da minha. Vivo no Brasil em uma cidade barulhenta, com muito trânsito, muitas pessoas caminhando pela rua, muita insegurança, muito calor. Não tenho jardim ou horta para cuidar, meu apartamento em São Paulo é bem iluminado, tem muitas janelas e minha vista de um dos lados são de prédios e casas e do outro mais prédios e casas, mas consigo ver ao longe a Serra da Cantareira. Aqui, a casa é rodeada por um lindo jardim, da janela do meu quarto posso acompanhar o crescimento da horta e ver a neve derretendo nas montanhas rochosas do Leste. Escuto o canto dos passarinhos e de vez em quando o barulho dos carros que passam pela rua. Nunca escuto uma buzina. As pessoas não andam pelas ruas, todos andam de carro, mas andar pela rua é seguro e muitas vezes solitário. O transporte público é bem precário. Existe uma linha de metrô de superfície e poucos ônibus e taxis. Aqui é preciso ter carro. A cidade é espalhada, possui 1.124.197 habitantes (2011) com área total de 285,9 km². Já a cidade de São Paulo possui 11.967.825 habitantes (2011) com uma área total de 1.523 km² e estamos lutando para que o transporte público seja melhor e mais abrangente e que poucos utilizem o carro.
Para ir para minha escola de inglês todos os dias Silvye me dá uma carona até lá. Entro às 8:20 e saio às 15:00 horas. Quando acaba minhas aulas vou me encontrar com Silvye na casa de Anika ou marco em algum outro lugar da cidade. Essa semana marquei dela me pegar na Biblioteca Central que já havíamos visitado em outra ocasião.
Na Horizonte, minha escola de inglês, eles fazem algumas palestras para incentivar o crescimento educacional de seus alunos. Em uma dessas palestras uma representante da Biblioteca Central, The Main Library foi até a escola para apresentar seus programas e as vantagens de se associar à Biblioteca. Com o cartão da biblioteca você pode usar em qualquer uma das bibliotecas da cidade espalhadas pelos bairros para pegar emprestado: livros, músicas, DVDs, Áudio-livros, revistas, CD-Roms, Kits para clubes de leituras e mais.
Eles possuem uma Biblioteca Digital que está disponível 24 horas e oferece as mesmas coisas que a Biblioteca Pública de Salt Lake City sendo que os artigos estão em formato para download ou no formato streaming e pode pegar emprestado a qualquer momento, onde você estiver.
É possível baixar livros e áudio-livros eletrônicos para ler ou escutar em seu computador pessoal, ou tablete ou outro dispositivo móvel. As revistas estão disponíveis em formato Zinio, e é possível baixar até cinco músicas grátis por semana do catálogo da Sony Music. A Biblioteca possui filmes independentes pelo IndieFlix e Over Drive.
Para quem quer melhorar seu Inglês ou aprender outra língua no terceiro piso da Biblioteca Central sempre tem alguém disponível, simpático e paciente para te ajudar a encontrar o que precisa. Na Biblioteca digital é possível encontrar programas que ajudam a estudar outra língua como o Mango, Pronunciator e Muzzy.
Além disso, na Biblioteca Digital é possível ter acesso total ao Lynda.com, que é uma videoteca de treinamento sobre quase todos os softwares imaginados, programas de desenho e pós-produção de vídeos, edição de vídeo, e muito mais.
A quantidade de produtos oferecidos pelo Sistema de Biblioteca de Salt Lake City é enorme, mas o que mais me chamou a atenção é que eles visitam as escolas para apresentar a biblioteca, explicar o que ela faz, incentiva as pessoas a procurarem seus serviços e explicam com detalhes como fazer para ter um cartão da biblioteca. Ao chegar lá, logo na recepção você é muito bem recebido, e ao explicar que não tem fluência na língua a pessoa faz de tudo para te ajudar, falando com calma e algumas vezes em espanhol. É na recepção que você faz o seu cartão e já sai com ele pronto para ser usado.
No terceiro andar fui atendida por um rapaz que me ajudou a encontrar o que eu queria, e me ensinou a usar o programa de treinamento da língua inglesa no meu computador pessoal e no meu celular. Sempre, com muita simpatia e dedicação e ainda disse que caso precisasse de mais auxílio que poderia ligar ou voltar lá sanar as dúvidas.
No quarto andar fui à procura de um livro de Arteterapia, a pessoa que me atendeu pediu desculpas, pois, o único livro que havia não estava disponível e disse que poderia acessar ao livro na biblioteca digital.
A Biblioteca Central tem disponível computadores com acesso à internet e é muito usada pelos homeless que vivem por lá. Eles ficam sentados nas poltronas lendo algum livro, revista, e alguns acessando o celular via wi-fi que é aberto. Muitos aproveitam os computadores jogar, ou ver filmes. Alguns deles se reúnem nos sofás e poltronas para conversar. Na área externa é possível encontrar muitos deles tomando sol no anfiteatro aberto bem perto da porta de entrada. Estão sempre carregando suas sacolas, os carrinhos de supermercado não entram.

A Biblioteca foi construída em 2003 pelo Safdie Architects. Ela fica atrás do prédio da prefeitura e ao lado do Museu Leonardo, que é um centro cultural de ciências e arte visuais, mas que ainda não tive a oportunidade de conhecer.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

87 dias de viagem. 29 dias de viagem. Somebody said get a life...so they did


Dia 27 de abril
Esses dias de estrada no oeste americano rumo à Califórnia foram muito intensos e emocionantes. A paisagem possui uma força arrebatadora, além disso tenho em minha memória anos de filmes com esses recortes. Para essa viagem em particular, eu com minha amiga Silvye, Telma e Louise foi o pano de fundo, mas sem o final trágico. A viagem até Los Angeles é longa, e isso nos deu a oportunidade de estarmos só nós duas com muita conversa, muitos risos, algumas recordações e a vontade de colocar em dia a amizade que ficou em suspensão por 12 anos.
Que bom que a vida nos proporcionou essa oportunidade e melhor ainda que a pegamos com unhas e dentes. Somos valentes em regatar amores perdidos, quase naufragados.
Visitar Geisa e Rodrigo em Santa Monica foi aconchegante. Tenho algumas amigas bem mais jovens que adoto como filha. Geisa é a minha filha mais velha, mas devo dizer que ela é tão vibrante, tão alegre, tão determinada, que os anos passam e ainda vejo nela a mesma energia e força de seus 16 anos. Um dos sorrisos mais belos que conheço e o coração enorme. Foi nessa viagem que tive a oportunidade de conhecer Rodrigo, seu marido, e claro, foi uma ótima surpresa. O casal se completa, são companheiros e cuidadosos um com o outro. Foi bom estar com eles, mesmo que por poucos dias.
Fomos almoçar no restaurante que Geisa trabalha antes de pegarmos a estrada para Las Vegas. Foi bom, mas fiquei triste, deixei minha filha em Venice. Ela está bem, mas queria um pouco mais...
Só mais um abraço gostoso.
Indo para Las Vegas pegamos uma tempestade de areia. Fiquei com medo, ela vem de repente, foi difícil entender o que era. O vento forte leva o carro para o lado e tudo fica branco de areia. Passa, é bonito.
Fomos a Vegas, assistimos shows: Michael Jackson, One e Ká do Cirque du soleil. Esses shows monumentais só podem acontecer em Vegas, não existe no mundo local com a infraestrutura para espetáculos deste porte.
Você quer me perguntar se joguei?
Nada.
Prefiro ir aos shows.
Dois dias em Vegas e voltamos para Salt Lake City.
Durante todo o percurso o céu é enorme.

domingo, 24 de abril de 2016

87 dias de viagem. 27 dias. Venice

24 de abril de 2016.

Ontem foi dia de passear na praia. Coloquei meu short-saia, uma camiseta de manga curta minha sandalia confortável e um casaquinho para o final da tarde, Silvye foi de calça comprida. Estacionamos o carro na Washington Blvd onde ainda não tem parquimetro e fomos na direção do mar. No último quarteirão antes de chegarmos na praia do lado esquerdo fica o restaurante em que a Geisa trabalha. Passamos por lá para dar um beijinho nela e seguir em frente na descoberta de Venice. Geisa aparece reclamando que o vento estava gelado e por isso o movimento fraco. 
Meu casaquinho continuava no meu ombro.

Realmente o vento estava meio gelado...mas quem sabe o sol esquenta. Para caminhar no calçadão da praia tem uma pista do lado direito de quem vai em direção ao centro de Vencie e o Pier de Santa Monica. Do lado direito apenas para bicicletas e patins.
Silvye para em uma lojinha para comprar um short e já sai com ele. 
Sol e um lindo e enorme céu azul e um vento gelado. Desisti de ser valente e coloco meu casaquinho amigo.
Vamos nos encantando com as casas na frente do mar, uma escultura de pedras empilhadas, uma cascata na parede de uma casa, um buda enorme no jardim até chegarmos na muvuca, cheia de lojinhas e camelôs.
"Me sinto no calçadão de Caragua" disse eu para a Silvye e rolamos de rir.
Enquanto caminhamos pela orla vamos descobrindo a população que frequenta o lugar como um clone de Jimmy Hendrix, um homem com uma cobra enrolada no corpo parado na esquina chamando os turistas para tirar fotos, figuras muito engraçadas andando de patins e pessoas vestidas de verde oferecendo medicinal cannabis - "É legal!" Diz a figura de verde.
Não chegamos até Santa Monica, foram muitas paradas.
Hoje antes de ir para Las Vegas vamos passar no Pier de Santa Monica.



sábado, 23 de abril de 2016

87 dias de viagem. 26 dias. Hello, hello!

26 dias de viagem. Hello, hello!
23 de abril de 2016
Saímos de Salt Lake City dia 21 pela manhã rumo a Los Angeles para encontrar com Geisa. A viagem de carro dura mais ou menos 11 horas. Passamos pela ponta do Estado do Arizona, depois Nevada até chegarmos na Califónia. Durante toda a viagem vamos encontrando uma terra árida, ampla com montanhas rochosas no caminho. Tirei muitas fotos quando atravessamos essas montanhas que um dia foram o fundo do mar. É a ponta do Gran Canyon, chama-se Red Rock Mountains, maravilhosa. Fiquei realmente emocionada com a força daquele lugar as fotos estão na máquina e aqui não consigo baixar. Aguardem as próximas postagem.
Telma e Louise, isto é, Silvye e eu chegamos na casa de Geisa 8 horas da noite. Chegando perto da cidade de Los Angeles já vamos sentindo que a calma do oeste americano está acabando. As estradas estão mais movimentadas e disputadas. Nos arredores da cidade encontramos um trânsitointenso e pegando a interestadual 10 chegamos num ponto que parou. Trinta minutos de pára e anda. 
Hello, hello, é assim que Geisa fala quando liga para nós. Sempre transmitindo um alto astral. Amo isso nela. Geisa mora em delicioso apartamento em Santa Mônica, Palms. Nos recebe com um seu grande e lindo sorriso e muito carinho. Prepara um lanche, tomamos vinho e damos muitas risadas. Rodrigo, marido de Geisa chega mais tarde. Conversamos um pouco e vamos deitar. Geisa acorda muito cedo para ir trabalhar em restaurante Cubano "Mercedes" em Venice. 
Na sexta-feira, dia 22 de abril recebo a notícia de que caiu a passarela no Rio. Mais uma tristeza, mais motivos para que as pessoas falem mal do país, tantas perdas. Pobre país.
Silvye e eu resolvemos que iríamos em uma loja de material de artes ver se achávamos mais material para encáustica. Encontramos a Artist & Craftsman Supply, paraíso para quem gosta de fazer arte. Depois de fazer umas comprinhas fomos procurar algumas galerias de arte e encontramos um local cheio de pequenas galerias. 
Uau!
Bergamot Station Arts Center, fica na 2525 Michigan Avenue em Santa Monica. Antes devia ser uma fábrica ou algo assim, hoje os galpões abrigam diversas galerias de arte, um teatro, alguns escritórios de arte, arquitetura e vídeo. Foi um achado, o lugar promove alguns eventos de arte e música e tem um grande estacionamento para os visitantes. Entramos em quase todos os espaços, das 11 até às 16 horas. Uma imersão no que estão fazendo de arte por aqui. 
Foi muito bom.
De noite jantar com Geisa em um restaurante brasileiro regado com muitas risadas.

Veja um pouco mais sobre esse espaço:

terça-feira, 19 de abril de 2016

87 dias de viagem. 22º dia . Antelope Island Park



19 de abril de 2016
Hoje faz 22 dias que estou em Salt Lake City. Conheci muitos lugares, tenho visto a natureza se exibir em toda sua beleza e cores. Aqui ela não é nem um pouco modesta. Da janela do meu quarto avisto as montanhas do lado leste. Quando cheguei ela estava toda nevada, hoje restam uns pequenos pontos de neve no seu pico mais alto. A árvore da casa do outro lado da rua estava seca, hoje mostra folhagens novinhas, verde misturado com amarelo claro. Ainda daqui posso ver crescer a horta e do lado direito tem uma colmeia de abelhas que estão trabalhando muito nessa época do ano.
Inicie o meu curso de inglês e quando termino vou a pé até a casa de Anika para me encontrar com Silvye. Devo caminhar por uns 45 minutos até lá, mas sempre no plano passando por ruas e jardins enfeitados de tulipas, lilases, macieiras em flor.
As pessoas por aqui são extremamente amigáveis, por qualquer lugar que ando quando passo por alguém sempre recebo um cumprimento e um sorriso. Silvye, David e Daniel são muito carinhosos e atenciosos comigo. O maior orgulho de David é me apresentar o oeste selvagem. Essa é a grande oportunidade de toda essa viagem, aprender sobre o lugar com alguém que ama a terra, a natureza e sabe o que mostrar.
Sábado, dia 16 fomos até Antelope Island State Park, que fica no Great Salt Lake e onde é possível avistar rebanho de antílopes e búfalos. Devido à seca que já dura 10 anos o lago está bem baixo, mas a paisagem continua maravilhosa. O lago que parece um mar de tão grande possui uma coloração esverdeada. Todo local, sai do marrom, caminha para o ocre se mistura ao vermelho logo caminha para o amarelo indo em direção ao branco, mas nunca branco tornando-se areia. E em volta disso as montanhas nevadas coradas pelo azul infinito do céu.
De tirar o folego com tanta beleza.
Ventava muito nesse dia, um vento gelado que entrava pela minha cabeça raspada e congelava meu cérebro. Cada parada um desafio. David levou seu binóculo e uma luneta toda incrementada para observar os animais ao longe. Olhos de caçador, sabe ver onde o animal está e o que era uma pedra para mim, de repente mostra-se um antílope tomando sol tranquilamente no descampado. Mais adiante pudemos observar um rebanho de antílopes caminhando. Logo começaram a aparecer um búfalo aqui, outro ali no alto da montanha. Me senti nos filmes do faroeste, queria ver os índios correndo pela pradaria montados em seus cavalos junto com os búfalos. Minhas lembranças levaram aos filmes que tinham as grandes caravanas dos colonos, com certeza foram feitos ali. Conseguimos chegar perto de uma turma de búfalos que descansavam aos olhos dos turistas. Minha máquina não tem um zum muito grande, mas fomos valentes de chegar perto daqueles animais enormes.
Sentamos nas pedras para observar a paisagem que se estendia na imensidão e fugir um pouco do vento.
Melhor não.

Logo pequenos insetos começaram nos atacar, essa é a época da procriação, se quiser visitar a ilha nessa época vá quando venta, caso contrário os mosquitinhos atacam.

domingo, 17 de abril de 2016

87 dias de viagem. 20 dias. Nazima




17 de abril de 2016. 
Me lembrei agora de Dona Nazima. Um doce de pessoa, veio morar no Brasil depois de passar por guerras e perseguições em seu país. Nasceu no Iraque e viveu no Irã (pode ser o contrário, nunca sei ao certo) e em todos esses lugares teve de sair por perseguição religiosa. Ela era judia. No Brasil, criou suas duas filhas, e aqui viu seus netos nascerem e crescerem. Era uma pessoa calada, acho que tinha muita dificuldade de entender a nossa cultura, nossa língua. Quando da invasão dos Estados Unidos no Iraque me lembro como ela sofria ao ver o seu país sendo destruído, atacado e não compreendido.

Me sinto Nazima hoje.

sábado, 16 de abril de 2016

87 dias de viagem. Dia 16 de abril. 19 dias de viagem. Artspace, Art Access

Dia 16 de abril. 19 dias de viagem. Artspace, Art Access
Hoje quero contar para vocês sobre um espaço incrível que conheci em Salt Lake City. Me lembrou uma conversa que tive com Dado enquanto caminhávamos pela rua Turiaçu perto do Parque da Água Branca, São Paulo. Nesta rua tem um local abandonado onde funcionava o Asilo São Vicente de Paula. Não sei a quem pertence hoje em dia, mas o prédio parece ser do início do século vinte, assim como o Parque da Água Branca que fica bem atrás dessa construção. Esse local seria um lugar ideal para pequenos estúdios e ateliês de artistas.
O lugar que conheci aqui em Salt Lake City é o sonho de muitos artistas, chama-se Artspace, e fica no centro da cidade em um local onde está acontecendo uma grande renovação.
Pense no centro da cidade de São Paulo, com as ruas apinhadas de pessoas, carros, ônibus e caminhões transitando pelas estreitas ruas e motos, muitas motos. Fixaram essa imagem em suas mentes? Ok, esqueçam tudo isso.
Salt Lake City não tem ninguém. Os espaços são amplos, não existe em nenhum momento trânsito engarrafado, e as pessoas...acho que tem 2 milhões de pessoas espalhadas por toda a cidade, que é enorme. Ela é toda plana, cercada de montanhas, só no centro vemos alguns prédios. Não consigo entender o centro da cidade como algo tão aberto, calmo, sem gente.
Paulistanos, devo confessar que senti falta do cruzamento da Ipiranga com a São João.













Aqui no centro conheci a nova Biblioteca central, que é linda. Alguns homeless vivem na praça da prefeitura ou nas redondezas. Em uma rua mais para baixo, fica o Pioneer Park, bastante frequentado pelos homeless por ter o exército da salvação por lá. Segundo David, a grande maioria mora na rua por opção. Há inúmeros serviços à disposição para atender as diferentes necessidades. Durante o inverno ficam em abrigos, na primavera e no verão eles ficam pelas praças.
Em frente ao Pioneer Park está o City Center Artspace que é uma renovação de um antigo armazém de 1905. Nesse local existem para locação 18 moradias/estúdio de artistas, galerias, estúdios e espaços comerciais ligados à arte como organizações sem fins lucrativos ou pequenas empresas. No hall interno encontramos de um lado as moradias/ estúdios e do outro os espaços comerciais, lá foi conservado o local onde o trem entrava para descarregar as mercadorias, ficou um lindo espaço de jardim. Os tijolos são da construção original.
Fiquei com vontade de ter um apartamento ali. Um charme.
No Artspace existe uma organização sem fins lucrativos Art Access e Access II Galleries que são como uma plataforma para artistas emergentes, artistas com deficiência, e outros com acesso limitado às artes para entrar e prosperar na comunidade das artes local. Desta forma, esses artistas tem a oportunidade de mostrar seus trabalhos junto com os artistas já reconhecidos de Utah. Além da sala de exposição o Art Access oferece diferentes workshops de arte, residência artística, workshop de literatura e poesia, apresentação de teatro e dança e encontros de Arteterapia. Existe um trabalho muito interessante de acompanhamento de um artista com algum tipo de deficiência por um artista profissional. É um trabalho de mentor, os artistas aprendizes recebem orientação no desenvolvimento de sua técnica artística, expandindo as suas experiências educacionais e profissionais, aprendendo sobre o lado do negócio do trabalho de artista, e faz conexões vitais com a comunidade artística local. O programa culmina com uma exposição de grupo na galeria todo mês de agosto.
Silvye e eu fomos muito bem recebidas por Jackelin Slack diretora de marketing do Art Access e que nos contou que seus pais são chilenos, ela nasceu em Porto Alegre e logo mudaram para os Estados Unidos. Não fala quase nada de português, mas pode arranhar um portunhol. Gosta muito de viver em Salt Lake City. Jackelin nos passou o endereço de um artista que trabalha com encáustica.
Mas, essa é outra história.



quinta-feira, 14 de abril de 2016

87 dias de viagem. 17 dias. Building Silvye's Kitchem 02




Dia 14 de abril
Há 17 dias saí de São Paulo para me aventurar aqui no oeste americano. Tenho vivido muitas coisas e o tempo passa rápido, mal dá para contar tudo.
Tenho me esforçado bastante para entender e falar inglês. A mãe de Anika e Silvye me ajudaram a encontrar um curso de inglês no Horizonte Instruction and Traininig Center. Uma escola multicultural com diversos programas para atender a diferentes populações entre eles o programa de Inglês como segunda língua voltado especialmente para imigrantes e refugiados. Não sou imigrante e nem refugiada, mas eles estão abertos a todos que queiram desenvolver suas habilidades na língua inglesa. Para frequentar a escola é preciso apresentar um comprovante de residência e fazer provas de leitura e compreensão de inglês assim descobrem qual o nível que o candidato possui. As provas acontecem toda quarta-feira e quinta-feira, são dois dias de prova, das 11 à 13 horas. O curso tem início na segunda-feira seguinte. Todo o curso tem duração máxima de 6 semanas e custa US$ 35,00 total.
Segunda-feira inicio meu curso e vou saber qual o meu nível.
Enquanto isso vou acompanhando de perto a construção da cozinha de Silvye. Agora já está coberta e preparada para receber o shingle. Foi colocada uma manta por cima da madeira e depois um papel por cima de tudo e aí que será colocado shingle. Não entendi essa história do papel. Hoje está chovendo e ameaça cair uma neve, e lá dentro está seco. Quando saí pela manhã para fazer meu último teste na Horizonte ainda havia a parede que separa a cozinha atual da nova. Voltei para casa 15 horas e já não havia mais parede separando apenas um grosso plástico.

Nas próximas semanas eles começam a fazer a parte elétrica e hidráulica. O piso, Silvye e David irão colocar. Eu, vou continuar a fotografar.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

87 dias de viagem. Décimo segundo dia. Jordanelle Resevoir

Dia 9 de abril. Décimo segundo dia de viagem. Jordanelle Reservoir


Jordanelle Reservoir é um reservatório em Wasatch County, Utah, Estados Unidos, ao norte de Heber City. A barragem de Jordanelle foi construída em 1995.

Durante a primavera e verão é cenário para esportes aquáticos e pesca. Durante o inverno o lago fica totalmente congelado e para pescar é preciso fazer um buraco no gelo.


Domingo, dia 9 fomos pescar em Jordanelle. Para chegar lá pegamos a mesma estrada que vai para Park City. Demoramos uns 30 minutos para chegar ao local de nossa aventura de pesca e pic-nic. David, Silvye, eu e Charlie, o cão.
Mochilas nas costas, varas de pescar, chapéu na cabeça, casaco quente para enfrentar o frio, montanhas nevadas atrás de nós. Algumas com pistas de esqui. Cenário lindo. Vamos caminhando em direção ao lago. Tenho uma sensação de déjà vú. A água está baixa, muito baixa, me lembrou a represa de Paraibuna, SP Brasil. Quando passamos pela rodovia dos Tamoios, em época de seca, podemos ver os pescadores lá embaixo, troncos de árvores secas aparentes. Uma sensação de tristeza pela falta da pujança da água.
Devo confessar aqui que minha experiência em pesca é zero, ou quase, se é que pode contar a tentativa de pesca em Scofield.

David sai na frente à procura de um local para pescar. Lá embaixo, vejam que é bem lá embaixo. Se prestarem atenção, na margem ao lado do tronco seco tem um grupo de pescadores, David e Charlie descem, Silvye me explica o que eu devo fazer para uma descida segura enquanto tiro fotos. Olho para baixo e tenho a sensação de que isso não vai funcionar, mas guardo para mim, tudo em nome da aventura. Guardo minha máquina na sacola, e início a descida, pé ante pé, testando o solo cheio de pedras arenosas e...claro, levo um tombo e escorrego morro abaixo.
Tá certo, não foi tão morro abaixo, mas óbvio que caí. Quando consigo chegar lá embaixo, David já havia testado a água e sei lá como já sabia que não havia peixe por lá. Voltamos a subir para chegar no outro lado do lago, onde segundo ele, tinha peixe. Para chegar ao platô fui resgatada pelo David. Descemos para o outro lado. Quando estávamos descendo passa por nós um coelho correndo à toda. Charlie foi atrás dele, na esperança de pegá-lo.
Boa tentativa, Charlie!
David saiu para achar os peixes e eu e Silvye nos sentamos para nosso pic-nic, tomar vinho, dar risada e ascender a fogueira. Charlie voltou cansado da corrida atrás do coelho. Algum tempo depois David volta dizendo que não havia peixe e que deveríamos tentar novamente o outro lado do lago.
Tá bom...vai que nós já vamos.

O tempo começa a mudar, começa a chover fininho e desmontamos nosso acampamento e vamos nos encontrar com David. Venta frio, chove. Silvye pega minha máquina e resolve tirar a minha foto de pescadora. Fake total.

Vamos caminhando e olhando para baixo, no lago para ver se encontramos David. Nada. O tempo vai piorando e resolvemos ir para o carro. Quando estamos chegando no carro David está chegando pela estrada, desanimado por não ter pescado nada. Guardamos nossas coisas no porta-malas, e Charlie se acomoda para iniciarmos a viagem rumo a Park City comer alguma coisa. David procura sua carteira e celular. Já estou sentada no banco de trás, Charlie já está ressonando e David surta. No cel, no wallet. Ele freakou, do verbo Freak(ar). Perdeu a carteira e o celular em algum lugar na margem do lago. Ele e Silvye voltam para a represa. Charlie e eu ficamos no carro. Charlie dorme e eu desenho.
Algum tempo depois, escuto um telefone tocar no porta-malas do carro. Desço do carro para abrir o porta-malas e achar o celular que toca insistentemente. Do lado direito do porta-malas tem um buraco e lá repousava tranquilamente o celular e a carteira. Atendo o telefone: Hi David, I found the wallet and the cell phone. Como ninguém pensou em fazer a ligação antes?
Risadas mil, fomos direto para Park City para o No Name Saloon.


Tomei uma sopa no pão deliciosa, uma taça de vinho e me encontrei com Bufalo Bill.
Como agradecer aos amigos momentos tão marcantes?





terça-feira, 12 de abril de 2016

87 dias de viagem. Décimo e Décimo primeiro dia. Plantando cebolas




Décimo dia ao Décimo primeiro dia.
Dia 8 de abril, fomos às compras, porque ninguém é de ferro. Não se preocupem, me segurei bastante, tenho muitos dias pela frente. O duro é que é muito mais barato do que no Brasil, mas me mantive contida.
Chegou o sábado, meu décimo primeiro dia em terras distantes. Pela manhã tomamos sol no jardim, e David queria saber qual a cor que deveríamos colocar no telhado. Penso, como assim? Acho que não entendi. No Brasil, os telhados geralmente têm a cor avermelhada, embora agora tenham alguns com telhas brancas e algumas verdes. Escolhemos o modelo das telhas, mas não me lembro, me desculpem os arquitetos, de muita preocupação quanto ao telhado, a não ser pela festa da cumeeira. Silvye também não entendeu e começamos a prestar atenção às casas vizinhas, não são muitas que conseguimos ver do jardim, talvez duas ou três. Eles usam um material que se chama shingle, que é feito de fibra de vidro imprensada no asfalto com granulados de cerâmica. Existem de diferentes cores, do ocre claro passando pelo verde musgo até o preto. Diferentes formatos também. Segundo um site que ensina como escolher seu roof shingle, é muito importante saber escolher a cor do seu telhado, pois isso vai dar personalidade à sua casa, deve ser considerado o clima, as cores claras deixam a casa mais fresca e menores e, a escura mais quente e maiores. Saímos para escolher a cor do shingle e optamos pelo verde musgo que resiste ao vento forte e grandes tempestades de neve pela tecnologia da colocação do material.
Escolhido o telhado, voltamos para casa pois era hora de plantar cebola. De minha janela vejo a horta, o orgulho da casa. Em outubro, haviam plantado alho. Esses meninos ficaram hibernando todo o inverno embaixo da terra, e quando cheguei eles estavam apontando para fora suas hastes verdes. Na coluna ao lado havia uma penugem verde que prometida crescer. Hoje o alho tem as hastes lindamente para fora e nas colunas acima já podemos ver as folhas das hortaliças.
Eu tenho uma intimidade com plantação assim como pescar ou essas coisas da vida selvagem. Todos os dias tenho um desafio aqui no Wild West. Cheguei na horta pisando onde não podia e tentando entender como aquilo poderia dar certo.
Não plantei cebolas, Silvye plantou.
Plantei cenoura.

Espero ter tempo de comê-las.

sábado, 9 de abril de 2016

87 dias de viagem. Nono dia. Big Cottonwood Canyon Trial


Dia 7 de abril
Nono dia de viagem
Toda quinta-feira Silvye sai de casa cedo e volta no final da tarde. É o dia em que ela fica das 8 às 17 horas cuidando de Anika.
Daniel, seu filho está na semana da primavera, por isso não tem aulas. Como todo adolescente, dorme bastante, mas tem várias obrigações a serem cumpridas, como limpar o jardim e ajudar o David em alguma atividade da reforma da casa.
David além de cuidar da reforma da casa, também faz trabalhos de construção pela cidade. Essa semana ganhou a concorrência para fazer um playground na parte oeste da cidade.
Tenho o dia para mim. Resolvo fazer uma caminhada com Charlie, o cão. David se anima todo com a ideia e propõe que eu conheça a trilha Big Contowood Canyon Trial, que ele construiu. Ele me diz que posso caminhar tranquila por qualquer lugar da cidade: “Aqui tudo é seguro, fique tranquila”. Com a maior das gentilezas e boa vontade me leva para conhecer a trilha de carro para ter certeza de que não vou me perder.
Charlie e eu vamos então caminhar. Charlie é bom de caminhada, não puxa a guia e está sempre andando no mesmo compasso comigo. Ótimo companheiro.

Duas horas de caminhada deslumbrante. A montanha vai se agigantando conforme caminhamos. Tudo muito limpo, arrumado e a natureza mostrando todo seu vigor.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

87 dias de viagem. Construção da nova cozinha



Dia 5 e 6 de abril. Sétimo e oitavo dias
Dias de acompanhar a construção da nova cozinha de Silvye.
Vai ser uma grande cozinha onde ela possa receber os amigos e hóspedes de seu B&B Beija-Flor. Silvye adora receber, cozinhar, beber e dar muitas risadas. Isso faz parte de sua vida, são as coisas que são importantes para ela. Nesses momentos de confraternização é que notamos como isso a faz feliz e como ela se doa. Os jantares são deliciosos, sempre feitos com muito carinho e muita risada. Risadas, acontecem em doses enormes durante todo o seu dia e é extremamente contagiosa. As risadas não são baixas e muito menos discretas. Elas arrombam os corações mais duros, são invasivas e ressonantes.
Silvye faz. Faz coisas o dia inteiro sem parar em uma velocidade alucinante, assim como as palavras. Ela me contou que a pediatra de Anika disse que para uma criança de um ano ela está com um vocabulário enorme. Claro, com Silvye conversando com ela o dia todo, ela já deve estar falando, inglês, português e espanhol.
Silvye ama. Ama seu filho Daniel, ama seu companheiro David, ama os amigos e sua família. É com esse amor que ela vai construindo sua vida, juntando pedaços perdidos e recuperados, guardando outros em um lugar seguro para um novo reencontro.
A cozinha nova será um bom lugar para estar.
Agora, vou falar da construção da cozinha. Reforma em casa é sempre uma confusão, uma bagunça e muita sujeira. Pois bem, aqui não é assim. A maior sujeira vem do pó da madeira, e só. Em dois dias quatro homens sendo que dois são os chefes e os outros ajudantes, fizeram o piso e as paredes da nova cozinha. Foi muito interessante acompanhar essa construção. Algumas vezes da janela da cozinha atual, outras vezes caminhando pelo jardim. Na próxima semana outra equipe irá fazer o telhado e derrubar a parede da cozinha atual para que fique uma coisa só. Estou aguardando para ver a construção, para ver os sorrisos de satisfação e a alegria de Silvye e David do fazer juntos.
É bom estar aqui.




quarta-feira, 6 de abril de 2016

87 dias de viagem. Sexto dia. Primavera explodindo


Sexto dia. Segunda feira dia 4 de abril.
Dia de baby-sitter. Fui com Silvye conhecer a bebê que ela cuida. Anika.
Passamos antes por uma loja de material de artes. Perdi o folego, muita, mas muitas coisas para todos os gostos e necessidades. Comprei algumas coisinhas para começar. Pensei em iniciar trabalhos com aquarela e rendadozen. Projetos rodando rapidamente em minha cabeça.
Fomos para casa de Anika e sua mãe nos aguardava. Lindas, as duas. Anika ao ver Silvye abre maior sorriso. Ela tem um ano de idade. Já fala algumas palavras e já aprendeu mais uma: Naca, meu apelido e é assim que Silvye me apresenta para todos.
Depois de Anika se alimentar fomos passear no Liberty Park. Lá tem um lindo lago cheio de patos selvagens. Encontramos na frente do lago um homem de chapéu de palha tocando bandolim. Fiquei com vontade de tirar uma foto, mas achei um pouco invasivo. Ele tocava para se misturar aos sons do parque e as cores da primavera. 
Nosso caminho é cheio de explosões de flores por todos os lados. 
A natureza nos mostra que chegou a primavera.

Encantem-se.

87 dias de viagem. Quinto dia. Domingo em Salt Lake City





Dia 3 de abril
Dia de apurar os sentidos
Dia de preguiça, 
De olhar as montanhas, 
De sentir o sol, 
De comer escondidinho de frango e, 
conhecer Jude.
Jude gostou do escondidinho e comeu tudo.




terça-feira, 5 de abril de 2016

87 dias de viagem. Terceiro dia. Sobre Alces, Veados, Patos e Panquecas.





Dia 1 de abril. 

Logo pela manhã, David me convida para sair para observar os alces. Silvye e Charlie, o cão, ficam na cabana dormindo no quentinho. David está animado para me mostrar a manada de alces. Seu olhar vai percorrendo as montanhas e por vezes ele para com um grande sorriso no rosto, saca o seu binóculo e me mostra o local que devo observar. Serei sincera, demorou para entender o que eu devia ver. Lembrei-me do texto de Eduardo Galeano, que podemos encontrar no Livro dos Abraços:
"Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: me ajuda a olhar!"
Divertido, David me ensinou a descobrir os alces caminhando e comendo calmamente no alto das montanhas. A princípio, não sabia o que procurar, enxergava pedras. As pedras têm uma coloração ocre e marrom e os arbustos também, assim como os alces e veados.Verde seco, ocres e marrons se misturam na paisagem do início da primavera. De repente, o cérebro aprende a olhar e a decifrar as coisas que estava vendo e...nossa, lá estão eles, dezenas de animais pastando no alto das montanhas. Incrível, aprendi a ver alces e depois disso veados. Procure pontos brancos no meio das montanhas, ensinou David. Esses pontos brancos são os traseiros dos veados. Como num passe de mágica começava a ver o bicho correndo, pulando entre a vegetação.
Voltamos para casa contornando o lago de Scofield ainda com grande parte congelado. Patos selvagens nadam e voam pelo lago. É tudo maravilhosamente belo. David quer voltar mais tarde, quando estiver mais quente para pescar truta para nosso jantar. Quando mais tarde voltamos para o lago, Silvye e Charlie nos acompanham. O lago ainda está muito congelado e vamos até o rio. Eu na minha moleza e deslumbramento da paisagem caminho a passos lentos. Silvye me acompanha me mostrando e explicando as plantas, mostrando as construções dos diques dos castores e colocando as nossas vidas em dia. David vai na frente dando as ordens, que não escutamos, e mostrando o caminho. Charlie, está feliz, corre até David e volta correndo para nos encontrar. Não para um segundo. Chegamos no rio sentamos na pedra e David já está para lá e para cá procurando os peixes. Senta desanimado: no fish.
Voltamos para o lago. Sentamos em uma pedra e David vai tentar salvar nosso jantar. Levamos uma garrafa de vinho e ficamos observando o velho cowboy tentando pescar. 
No fish. Em compensação achou um monte de patos de armadilha para atrair os patos selvagens para o lago. Levamos os patos para a cabana. Eles ficaram ornamentando o jardim.
Nosso jantar?
Panquecas



.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

87 dias de viagem - Terceiro dia. A cabana


Dia 1 de abril. A cabana
Agora vocês devem se lembrar dos filmes de cowboys nos quais mostravam a cabana que a família morava no meio do nada com a neve cobrindo o campo. É isso nossa cabana em Scofield. Uma sala-quarto, uma cozinha e um banheiro. Tudo muito confortável e “rústico”. Temos água encanada e quente, salamandra enorme que consegue aquecer todo o ambiente. Sobre nossas camas, lindos quilts, um deles feito pela mãe do David o outro da cama de casal veio junto com a casa.
David comprou essa cabana caindo aos pedaços. A casa é toda feita de madeira, no interior a madeira foi trocada pois as originais estavam todas mofadas. A parte externa é original. Se dermos a volta em torno da casa encontramos alguns remendos de madeira, o pássaro Pica-paus adora fazer furos pela parte externa da casa. Ele que tome cuidado pois David tem um rifle. Ele adora caçar alces e pescar. Toda carne consumida em sua casa é de alce que ele mesmo caçou. Não entra carne comprada em sua casa, a não ser de galinha. O peixe é truta que pesca no lago de Scofield. O peixe ele só pesca e oferece para quem gosta.



domingo, 3 de abril de 2016

87 dias de viagem. Terceiro dia. Scofield


Scolfield é uma pequena cidade mineira, menor do que Carmo da Cachoeira em Minas Gerais, Brasil. Em 1875 descobriram carvão mineral e se tornou a primeira mineradora comercial dos Estados Unidos. Em primeiro de maio de 1900, uma faísca no subsolo da mina fez com que ocorresse uma enorme explosão no subsolo e 100 homens morreram na explosão e mais 99 morreram depois envenenados pela mistura tóxica dos gases. Foi um dos piores desastres de mina de carvão da história. Alguns mineiros foram encontrados mortos ainda segurando suas ferramentas.
A mina funciona até hoje, tem um movimento enorme de caminhão indo e vindo carregando carvão o dia inteiro, além do trem que faz a viagem duas vezes ao dia com mais de 70 vagões.
Mas, a cidade está morrendo. Hoje Scofield possui apenas 14 pessoas residentes permanentes. Muitas casas são de veraneio, de pessoas apaixonadas por caça e pesca. Algumas casas estão abandonadas com mobílias dentro. É possível encontrar uma loja com vitrine montada com lindos objetos, como máquinas de escrever do início do século XX, bonecos de pano, vestidinhos de batizado, brinquedos de porcelana. Incrivelmente lindos. Em outra esquina encontramos uma drugstore com balcão, bancos e prateleira que contém alguns objetos. No fundo da loja está o local onde as pessoas se encontravam para dançar. Pelo vidro podemos ver um lindo piano e algumas cadeiras de ferro. A cadeia de filme “Far West”, é uma deliciosa e engraçada surpresa.Tudo largado, como se o tempo tivesse parado. Algo em suspensão.
Para nós, brasileiros é quase impossível  entender como ninguém pega as coisas. David me explica que ninguém mexe, existe respeito e os vizinhos estão atentos para que ninguém mexa sem autorização. “Lembre-se que estamos no Oeste, todos têm armas”, inclusive os fantasmas.
O prédio da escola é de 1928. Lindo e grande. Hoje não é utilizado mais como escola. Não existem mais crianças no local, apenas pessoas muito velhas.
Sam, mora na casa ao lado da cabana de David. Ele tem 92 anos. Vive em Scolfield desde sempre. Estudou na escola, foi ao baile lá e provavelmente foi lá que conheceu sua esposa.

Há algo de encantador nesse abandono.
Sam

87 dias de viagem - Segundo dia. Parte 2


Scofield fica há duas horas de distância de Salt Lake City. Saímos da cidade na hora do rush. Avenidas e estradas cheias, mas sem parar. Um sonho. O carro não pula, não balança, não joga a gente de lado. Um tapete liso, sem buracos. Assim a vida não fica tão pesada.
A paisagem da estrada é de tirar o folego, montanhas rochosas nevadas dos dois lados, leste e oeste. As montanhas rochosas do leste são mais altas do que a do oeste. A casa da Silvye fica perto das montanhas do leste. Do meu quarto tenho o prazer de ver um pouco delas.
David resolve que vamos comer alguma coisa no caminho. Eu na minha santa inocência achei que iríamos parar e comer alguma coisa em um dos muitos malls que tem pela estrada.

Paramos em um drive thru, Popeyes Chicken. Começamos a viver o mundo selvagem do oeste americano. Segundo David, esqueça as etiquetas, fique à vontade e curta a natureza. Grandes pedaços de frango empanado são jogados em minha mão. APIMENTADOS. Dou duas mordidas e minha boca arde enquanto a paisagem de fora me deslumbra. Perdi o folego pela comida ou pela paisagem? Paro de comer. Desculpem-me, mas comer no carro é difícil, comer apimentado é impossível. Silvye retira do saco um pote de macarrão com queijo. Desceu melhor. Seguimos a viagem e a paisagem vai ficando mais branca. Vamos subindo a montanha até encontrar o vale onde se encontra a cidade mineira de Scofield.