Nosso terceiro encontro foi intenso.
Muito trabalho.
Muitas descobertas.
Papéis de seda coloridos misturados com a cera.
Recortes de aquarelas.
Entrada de um museu de Barcelona
Folhas secas da Praia Grande do Bonete
Guardanapos com pássaros
Areias coloridas
Um saco de chá e outro de tabaco
Pedaço de jornal
Um sorriso no rosto
Um brilho no olhar
Mil ideias na cabeça
E muita criação.
A natureza orgânica e flexível da encáustica (cera de abelha + resina + pigmento) proporciona efeitos de profundidades que outros materiais não
conseguem. Com a encáustica podemos fazer cortes tão finos como um fio de
cobre ou cheio de detalhes. No nosso encontro do dia 21 de setembro, apresentei a técnica de incisão e corte com diferentes
ferramentas de metal para conseguir linhas finas e cortes espessos. Removemos camadas de cera para conseguir
profundidade, oferecendo efeitos que nenhuma outra técnica de pintura consegue. Com o stencil adicionamos textura ao trabalho. Foram horas muito ricas em descobrimento e criatividade. Vejam um pouco do que aconteceu no vídeo abaixo.
Mosaico com os trabalhos dos alunos do dia 14/09/2017
Dia 14 de setembro de 2017, foi o primeiro encontro do curso de Introdução à pintura encáustica.
Serão 4 encontros de 3 horas de duração cada. O curso começa toda as quintas-feiras às 14 horas e termina às 17 horas até o dia 05 de outubro.
Cheguei às 12:30 horas, para preparar a sala, ligar os equipamentos e ligar o pote de encáustica básica. Sempre demora um pouco para chegar ao ponto certo.
O SESC 24 de maio está lindo, os ateliês muito bem montados, boa iluminação e móveis pensados para o trabalho de arte para grupos.
Os alunos foram chegando curiosos, querendo entender o que era encáustica, como trabalhar e mais do que tudo, ansiosos para começar a criar com essa técnica milenar.
Trabalhamos sem parar durante 3 horas seguidas.
Creio que nos divertimos. Eu me diverti.
Espero que tenha aberto uma fresta para essa técnica.
Minha intenção é criar momentos, num ambiente seguro, em que todos possam experimentar, pesquisar, descobrir com liberdade e fluidez.
Como dizia Ferreira Gullar: "A arte existe, porque a vida não basta".
Encáustica 1: Introdução à técnica, breve histórico, preocupações de segurança, o uso da pistola de ar quente como ferramentas de fusão, mistura de cores, camadas básicas, criando superfícies lisas / textura.
Encáustica 2: Corte incisão e estêncil.
Encáustica 3: Papéis de seda papéis leves papéis pesados, tecidos e fibras.
Encáustica 4: Transferência de imagens, fotocópias.
Com Ana Carmen Nogueira: Artista, Educadora, Arteterapeuta. Graduação Educação Artística - FAAP. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura - Universidade Presbiteriana Mackenzie. Oferece curso de pintura encáustica no Ana Carmen Ateliê de Artes
Informações e inscrições:
https://www.sescsp.org.br/aulas/130926_INTRODUCAO+A+PINTURA+ENCAUSTICA
Encáustica vem do grego “enkaustikos” que significa esquentar, queimar.
A Encáustica tem como matéria prima básica a cera natural de abelha e resina
damar (seiva de árvore cristalizada), acrescida de pigmentos. Essa mistura
possui uma ótima cobertura, densa e cremosa. Durante todo o seu processo
utiliza-se calor, desde a fusão da cera com a resina até a fusão das diversas
camadas. A mistura pode ser usada sozinha pela sua qualidade de transparência
ou pode der usada com a adição de pigmento. Essa mistura derretida é aplicada
com pincel em um suporte resistente ao calor, como madeira ou MDF.
Ana Carmen Nogueira é artista, educadora, arteterapeuta. Possui graduação em Educação Artística - FAAP. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Oferece regularmente curso de pintura encáustica no Ana Carmen Ateliê de Artes.
Hoje, como em todas as terças de manhãs ensolaradas nos sentamos no jardim
da casa onde mora.
Angela adora observar as
plantas, sentir o vento batendo e escutar o canto dos pássaros.
Semana retrasada iniciamos uma aquarela, mas ela não ficou muito
satisfeita com o resultado. Em dias assim, volto para casa pensando em como
reverter a insatisfação pela sua produção. Na semana seguinte, levei uma série
de ilustrações de flores, plantas e pássaros, que são os temas de seu
interesse, além do grande amor que tem pela praia e mar.
Propus que escolhêssemos uma de suas aquarelas antigas que ela não
tinha ficado satisfeita e a usasse como fundo para uma colagem.
Logo se interessou, fui mostrando o que eu havia levado e ela foi
fazendo a seleção. Angela me
indicava qual imagem queria e como eu deveria cortar e depois colava sobre a
sua aquarela. Eu segurava a figura recortada, Angela passava a cola de bastão e colava no lugar de sua escolha.
Algumas vezes parava para observar o que estava fazendo e se mostrava
nitidamente satisfeita. E assim, surgiu sua obra “Pássaros”. Encerramos nosso
encontro com a promessa de que na próxima semana ela iria avaliar se o trabalho
estava pronto ou não.
_. Mas eu posso dizer se está bom ou não? Pergunta Angela, antes de nos despedirmos.
_ Claro, o trabalho é seu. É você quem diz se terminou ou não.
Hoje, ao chegar na casa de saúde, fui buscar Angela na sala grande, onde todos os moradores se reúnem. Fomos
para o jardim, e sempre ficamos de frente a uma grande árvore, cheia de
orquídeas penduradas. Uso como apoio o banco do jardim. Chego sempre parecendo
Mary Poppins, carregando uma grande sacola com todos os materiais que iremos
precisar para o dia. Além disso, levo uma mesa adaptada para amarrar na cadeira
de rodas e uma caixinha de som, para trabalharmos escutando música. Hoje,
outras moradoras ficaram no jardim conosco escutando as músicas.
Enquanto vou me organizando coloco um pequeno cavalete com o iPad sobre
a mesa para que ela possa jogar quebra-cabeças. Baixei uma coleção deles e, é um
sucesso. Ela consegue escolher as figuras do quebra-cabeças e monta muito bem.
No começo eram quatro peças grandes, agora já está fazendo com 16 peças.
Depois de tudo arrumado, apresento o trabalho da semana passada e pergunto
se está pronto ou se podemos continuar. Angela
diz que quer trabalhar mais um pouco nele.
Quer pintar o céu como está hoje, muito azul. Depois de um tempo resolve
que as figuras dos pássaros não estavam no lugar certo. Trocamos os lugares e
ela me diz que gostaria de saber o nome de cada um dos pássaros que estão em
sua colagem.
Eu não sei. Ela diz que o amarelo se parece com um que vem sempre ao
jardim conversar com ela:
Angela _. Acho que é Sabiá.
Eles sempre vêm conversar comigo quando estou aqui no jardim.
AC- Você consegue conversar com os pássaros? Eu pergunto.
Angela _ Sim. Eles chegam
alegres falando alto e eu respondo.
AC_ E o que eles falam?
Angela _. Eles dizem que eu
estou bem e que sou bonita.
AC- Nossa, é um privilégio conseguir conversar com os pássaros, não é?
No domingo um casal de amigos veio aqui em
casa. Na verdade, não são apenas um casal de amigos, eles são um casal de
amigos bruxos. Não os associem à bruxaria do mal, com coisas do submundo. Eles
entendem de coisas que estão por aí, que não vemos, mas sentimos. Conseguem
interpretar o que está sussurrando. Compreendem as ressonâncias e as
reverberações. São bruxos encantadores.
Mostrei a eles o trabalho que fiz junto com
minha prima no sítio em Vinhedo. Minha prima havia perdido o marido e fiquei
com ela durante uma semana para ajudar o seu fortalecimento. No meio do
turbilhão do luto, da perda da pessoa amada, do fim de um sonho de uma
aposentadoria tranquila no sítio, minha querida prima se sentiu só. Sem nada,
sem planos, sem companheiro, sem suas bagunças. Só.
Fui arrumando com ela as coisas de fora para
dentro. O entorno da casa estava largado. Fomos guardando coisas que haviam
sobrado do churrasco que não terminou. Limpamos a churrasqueira, guardamos as
grelhas. Retiramos as latas e garrafas. Limpamos o terraço. Recolhemos as
ferramentas espalhadas pelo jardim e organizamos o depósito. No meio de tudo
isso, jogado no tempo um carretel de madeira gigante estava esquecido no
quintal. Minha prima diz que sempre quis fazer dele uma mesa com mosaico. Não
tive menor dúvida, é isso que vamos fazer, catar e colar caquinhos de fora para
dentro, para poder soltar o que está dentro para fora. Como um carretel.
Meu trabalho como arteterapeuta era auxiliar
e incentivar a sua criação e observar o seu caminho, suas reações, expressões e
falas e desenvolver um diálogo onde ela pudesse viver o seu luto, procurar
soluções por meio de sua produção simbólica.
Por meio do mosaico, fomos confrontando suas
dores, suas dificuldades e colocando no lugar suas ideias e emoções,
organizando seus conteúdos, se descobrindo e aumentando sua autoestima e
autoconhecimento.
Do mosaico que criamos surgiu uma Flor de Lis
no olhar de meu amigo bruxo. Ele me explica que a Flor de Lis carrega uma
potência de recriação de vida, de mensagem de uma nova Era, um processo de
limpeza para um novo porvir. A Flor-de-Lis, para o sistema havaiano de cura Ho’oponopono
é o símbolo de paz, onde algo irá mudar, é um veículo de luz, é a nova aliança
entre o céu e a terra conectando diferentes dimensões.
A forma de usar a Flor-de-Lis é coloca-la
sobre a situação conflituosa. São os nossos conflitos internos, nossos pensamentos
que estão em constante guerra conosco. Se estamos bem, tudo fica bem. A paz
começa conosco. Para meu amigo bruxo, ao colocarmos a Flor-de-Lis sobre o tampo
da mesa para fazer o mosaico estávamos colocando de lado o sofrimento e as
preocupações e difundindo uma cultura de paz.
Essa leitura externa do trabalho feito em
Vinhedo, que acabou envolvendo minha prima e sua filha e a filha de sua filha,
em um momento de grande paz interior, me fez ter a certeza do poder
transformador do fazer artístico. Estávamos assim, por meio da arteterapia,
reorganizando o caos, ressignificando afetos, transformando emoções,
reordenando mundos, reutilizando materiais, mudando a percepção do mundo e
abrindo caminhos para o enfrentamento de uma nova etapa na vida.
Helena veio apressada ao mundo.
Chegou um mês mais cedo, no final de setembro de 2016, quando ainda estávamos projetando a parede de seu quarto.
Daniel e Renata, queriam uma pintura no quarto não convencional.
Adorei
Algo solar para quem chega ao mundo para nos aquecer me pareceu adequado.
Um pouco de rebeldia sempre faz bem, e por isso adicionei Banksy, com a sua linda menina enfrentando o mundo com um balão de coração.
Consegui fazer apenas agora, no final de janeiro de 2017.
Helena dos olhos negros, redondos e grandes, acompanhou no colo da mãe a pintura do quarto.
Daniel, Dado e eu executamos o projeto.
Um sábado inteiro dedicados a colorir o mundo de Helena.
Espero que ela goste.
Nós nos divertimos.