Ganhei de presente um cacho de banana ouro da Ana Rosa. A banana
ouro foi colhida do jardim dela. Jardim lindo, incrustado no pé do
morro. A banana ouro era um cacho perfeito, amarelinho com umas
pintinhas marrons espalhadas pela casca. A forma era perfeita, as
bananinhas lindas, nem muito gordinhas nem muito magrinhas. Deliciosas.
Ana Rosa faz parte de um grupo de onze mulheres caiçaras conhecidas
como Saíras do Bonete. Junto com elas, Vera Ferretti e eu, procuramos
potencilizar talentos. Trabalhamos com o resgate das suas histórias, com
as habilidades manuais para reinventar um artesanato que mostre a
cultura da comunidade.
Essas mulheres começaram sua trajetória, há dois anos, quando iniciamos nossos encontros.
Aos primeiros encontros elas foram porque queriam aprender a costurar,
outras queriam aprender a fazer crochê ou tricô. Mas o que tinham em
comum era a vontade de aprender, de crescer, de conquistar um espaço.
Todas tinham desejos.
São os desejos que nos movem e nos fazem caminhar para frente. São os
desejos que fazem com que nosso olhar se torne mais atento, os sentidos
mais apurados e, assim, vamos fazendo ligações com as coisas que
sabemos, com as coisas novas que entramos em contato. Dessa forma, nossa
bagagem vai crescendo, nossa cabeça começa a trabalhar as conexões e,
de uma maneira sutil e vertiginosa, começamos a criar. Os bloqueios vão
caindo, os obstáculos vão sendo superados e nos empoderamos. Digo, a
sensação é boa.
Assim encontro hoje o grupo de mulheres caiçaras, na Praia Grande do
Bonete, procurando superar os bloqueios, quebrando os obstáculos. Ainda
buscam uma identidade nos trabalhos, mas é uma busca criativa. Procuram e irão encontrar porque desejam.
Ganhei um cacho de banana ouro de Ana Rosa, mas na verdade ganhei ouro.
Da minha parte retribui com uma simples aquarela do cacho de banana
ouro. Não tem agradecimento que possa retribuir tudo o que recebo dessas
mulheres empreendedoras caiçaras.
Ana Carmen Nogueira
Postado no blog -Empreendedorismo Rosa em: 23/02/2013
http://empreendedorismorosa.com.br/banana-ouro-do-bonete
sábado, 23 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013
Cartão Postal série Bonete - Chichico's restaurante
Cartão postal artesanal feito em aquarela com cera de abelha e costurado. O cartão Chichico's é uma visão da cozinha de Dona Lourdes. Lá é possível fazer compras de mantimentos que faltam em casa como também saborear comidinha caseira feita no fogão à lenha. Parte da renda da venda dos cartões será revertida para o grupo de mulheres caiçaras "Saíras do Bonete". Vendas: ac.nogueira@terra.com.br
Cartão Postal série Bonete - Barcoíris
Cartão postal artesanal feito em aquarela com cera de abelha e
costurado. O cartão Barcoíris retrata o quiosque que é ponto de encontro depois da praia. Parte
da renda da venda dos cartões será revertida para o grupo de mulheres
caiçaras "Saíras do Bonete". Vendas: ac.nogueira@terra.com.br
Cartão Postal série Bonete - Jade
Cartão postal artesanal feito em aquarela com cera de abelha e costurado. O cartão Jade foi feito em homenagem ao barqueiro Miro. Parte da renda da venda dos cartões será revertida para o grupo de mulheres caiçaras "Saíras do Bonete". Vendas: ac.nogueira@terra.com.br
No Bonete, ganhei o BBB
A Praia Grande do Bonete, a comunidade local, as mulheres caiçaras, Vera Ferretti e eu ganhamos de presente uma linda cronica de Ignácio de Loyola Brandão. A cronica foi publicada no dia 08 de fevereiro de 2013. Linda, obrigada Loyla.
Não se diz mais tombola, é bingo. As cartelas são de papel, você marca com giz de cera, caneta, ou fura com palito de dente. As vendedoras de cartelas para cada rodada entregavam um palito para quem não tinha. Era o bingo do Dia de São Sebastião na Praia Grande do Bonete, em Caraguatatuba. Dia sagrado para minha família, o 20 de janeiro é também aniversário da Rita, minha filha. Da última vez, dois anos atrás, entramos, sentamos, as pedras começaram a ser cantadas. Na quinta, Rita saltou: "Deu aqui!" Um espanto, isso é raro. Levamos para casa um bolo de chocolate delicioso. Voltamos este ano decididos a repetir. O bolo de chocolate saiu para outro. Mas havia uma atração, um bolo de banana. Tudo coisa feita em casa. Cada morador leva uma prenda (assim se diz). Bordados, toalhas, tortas, pacotes de cerveja, boas cachaças. O início é marcado por rojões. Ao ouvir os estouros, todos deixam as casas e vão para o Tablado.
Não ganhar na primeira não significa desistir. Nosso grupo era de seis pessoas, comprávamos duas cartelas de cada vez. Tínhamos sido os primeiros a chegar ao Tablado, onde a comunidade se reúne para tudo - bingo, rezas, reuniões. No domingo de manhã, a convite de Renilva Norma Guimarães, mulher do barqueiro Zezinho - um campeão das corridas de barco do dia do santo -, fiz uma conversa sobre literatura. Havia locais, havia turistas, ou seja, nós, os poucos de fora, que alugam as raras casas disponíveis. O lugar é preservado, as praias são desertas, limpas, sem barracas de caipirinhas, sem salgados, sem churrascos, sem farofas, sem jet skis.
Areia, mar, beleza e sossego. O silêncio é cortado vez ou outra pelos barcos que vão até Ruínas da Lagoinha buscar ou levar alguém. Quem quer beber vai ao Barcoiris, onde há iscas de peixe, lulas, comidinhas e integração. Foi ali que recebi o livro com casos sobre o Bonete (e a história do lugar), escrito pelo Roberto Cury, médico que frequenta há décadas, tem casa ali. Na minha fala me vi frente a frente com algumas saíras. É como são denominadas as mulheres caiçaras que preservam tradições e fazem artesanato. Saíras são os pássaros coloridos que se aproximam quando deixamos frutas na varanda, no jardim. Sossego, barulho do mar, a imensidão da água.
Os de "fora" são aceitos lentamente. A população (apenas 75 pessoas) é boa, amabilíssima, hospitaleira, mas se contém, é preciso merecer para conquistar. Há um lindo livro sobre o Bonete, fruto de um trabalho organizado por largo tempo (ainda bem que tais pessoas existem) por Ana Carmen Franco Nogueira e Vera Maria Rossetti Ferretti. Ana é mestre em Educação, Arte, História da Cultura e graduada em Artes Plásticas; Vera é mestre em Psicologia Clínica, psicoterapeuta e arteterapeuta. Com tais títulos poderiam ser acadêmicas sensaboronas, de linguagem arrevesada. Que nada! Pé no chão, conversadoras, falam de igual para igual com todo mundo, me lembraram a doce e rígida Ruth Cardoso, uma biografia que amei fazer, mulher insuperável. O trabalho de Ana Carmen e Vera Maria é pura antropologia moderna.
Neste livro, Saíras do Bonete, que podemos encontrar no Xixico, armazém-empório-vende-tudo da Lourdes, está uma história de emoção: como as mulheres caiçaras veem a vida, seus sonhos, o que querem para si e para seus filhos. Adelaide, Ana Rosa, Aurora, Cláudia, Claudineia, Graziela, Inocência, Juliana, Lourdes, Margarida, Michele, Renilva formam uma rede comunitária. Elas aderiram aos encontros com Vera e Ana Carmen dispostas a resgatar valores e culturas adormecidas, além de organizar um grupo forte e unido. A história de cada uma emociona pela força, luta, firmeza, poesia. Ao longo de meses, contaram suas vidas e teceram uma colcha em que cada desenho é um episódio em si, um sonho e um desejo. Esta colcha pode ser uma bandeira do Bonete, comunidade que resiste e se recusa a desaparecer, a ser engolida. Saíras do Bonete. Vozes que querem se fazer ouvir. Elas não sabem, mas fazem parte do grande movimento feminino do mundo, conquistando espaços, lugares, força.
No bingo, quase no final, chegou a hora do bolo de banana cobiçado. Jair, cheio de humor, avisou: e agora, o BBB. Todos olharam, surpresos. BBB? Ele acrescentou: o Bolo de Banana do Bonete. Saiu para nosso grupo. Ao deixarmos o Tablado, um mundo de gente correu para nosso banco, afinal, levávamos quatro prendas. Banco da sorte.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,no-bonete-ganhei-o-bbb--,994600,0.htm
Ignácio de Loyola Brandão - O Estado de S.Paulo
Como nas
quermesses da infância, quando comprávamos números e ficávamos com o
coração nas mãos, torcendo para ganhar na roleta um frango assado, um
bolo, um brinquedo, Jair, o cantador das pedras, ia anunciando os
números. Eu ouvia e me lembrava também do tempo em que jogava tombola na
juventude: dois patinhos na lagoa, 22; dois machados num pau só, 11;
idade de Cristo, 33; quá-quá-quá, 44; o mesmo número de qualquer lado,
8; começo do jogo, 1. Naquela época havia um número que provocava risos:
é ele ou é ela? 24. O veado no jogo de bicho.Não se diz mais tombola, é bingo. As cartelas são de papel, você marca com giz de cera, caneta, ou fura com palito de dente. As vendedoras de cartelas para cada rodada entregavam um palito para quem não tinha. Era o bingo do Dia de São Sebastião na Praia Grande do Bonete, em Caraguatatuba. Dia sagrado para minha família, o 20 de janeiro é também aniversário da Rita, minha filha. Da última vez, dois anos atrás, entramos, sentamos, as pedras começaram a ser cantadas. Na quinta, Rita saltou: "Deu aqui!" Um espanto, isso é raro. Levamos para casa um bolo de chocolate delicioso. Voltamos este ano decididos a repetir. O bolo de chocolate saiu para outro. Mas havia uma atração, um bolo de banana. Tudo coisa feita em casa. Cada morador leva uma prenda (assim se diz). Bordados, toalhas, tortas, pacotes de cerveja, boas cachaças. O início é marcado por rojões. Ao ouvir os estouros, todos deixam as casas e vão para o Tablado.
Não ganhar na primeira não significa desistir. Nosso grupo era de seis pessoas, comprávamos duas cartelas de cada vez. Tínhamos sido os primeiros a chegar ao Tablado, onde a comunidade se reúne para tudo - bingo, rezas, reuniões. No domingo de manhã, a convite de Renilva Norma Guimarães, mulher do barqueiro Zezinho - um campeão das corridas de barco do dia do santo -, fiz uma conversa sobre literatura. Havia locais, havia turistas, ou seja, nós, os poucos de fora, que alugam as raras casas disponíveis. O lugar é preservado, as praias são desertas, limpas, sem barracas de caipirinhas, sem salgados, sem churrascos, sem farofas, sem jet skis.
Areia, mar, beleza e sossego. O silêncio é cortado vez ou outra pelos barcos que vão até Ruínas da Lagoinha buscar ou levar alguém. Quem quer beber vai ao Barcoiris, onde há iscas de peixe, lulas, comidinhas e integração. Foi ali que recebi o livro com casos sobre o Bonete (e a história do lugar), escrito pelo Roberto Cury, médico que frequenta há décadas, tem casa ali. Na minha fala me vi frente a frente com algumas saíras. É como são denominadas as mulheres caiçaras que preservam tradições e fazem artesanato. Saíras são os pássaros coloridos que se aproximam quando deixamos frutas na varanda, no jardim. Sossego, barulho do mar, a imensidão da água.
Os de "fora" são aceitos lentamente. A população (apenas 75 pessoas) é boa, amabilíssima, hospitaleira, mas se contém, é preciso merecer para conquistar. Há um lindo livro sobre o Bonete, fruto de um trabalho organizado por largo tempo (ainda bem que tais pessoas existem) por Ana Carmen Franco Nogueira e Vera Maria Rossetti Ferretti. Ana é mestre em Educação, Arte, História da Cultura e graduada em Artes Plásticas; Vera é mestre em Psicologia Clínica, psicoterapeuta e arteterapeuta. Com tais títulos poderiam ser acadêmicas sensaboronas, de linguagem arrevesada. Que nada! Pé no chão, conversadoras, falam de igual para igual com todo mundo, me lembraram a doce e rígida Ruth Cardoso, uma biografia que amei fazer, mulher insuperável. O trabalho de Ana Carmen e Vera Maria é pura antropologia moderna.
Neste livro, Saíras do Bonete, que podemos encontrar no Xixico, armazém-empório-vende-tudo da Lourdes, está uma história de emoção: como as mulheres caiçaras veem a vida, seus sonhos, o que querem para si e para seus filhos. Adelaide, Ana Rosa, Aurora, Cláudia, Claudineia, Graziela, Inocência, Juliana, Lourdes, Margarida, Michele, Renilva formam uma rede comunitária. Elas aderiram aos encontros com Vera e Ana Carmen dispostas a resgatar valores e culturas adormecidas, além de organizar um grupo forte e unido. A história de cada uma emociona pela força, luta, firmeza, poesia. Ao longo de meses, contaram suas vidas e teceram uma colcha em que cada desenho é um episódio em si, um sonho e um desejo. Esta colcha pode ser uma bandeira do Bonete, comunidade que resiste e se recusa a desaparecer, a ser engolida. Saíras do Bonete. Vozes que querem se fazer ouvir. Elas não sabem, mas fazem parte do grande movimento feminino do mundo, conquistando espaços, lugares, força.
No bingo, quase no final, chegou a hora do bolo de banana cobiçado. Jair, cheio de humor, avisou: e agora, o BBB. Todos olharam, surpresos. BBB? Ele acrescentou: o Bolo de Banana do Bonete. Saiu para nosso grupo. Ao deixarmos o Tablado, um mundo de gente correu para nosso banco, afinal, levávamos quatro prendas. Banco da sorte.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,no-bonete-ganhei-o-bbb--,994600,0.htm
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